segunda-feira, 2 de julho de 2007

"porque hoje é sábado"...

o programa de sábado foi um misto de emoção, riso, saudade, força...
Juntaram-se as três primas para esvaziar a casa da avó (a avó Mariana, que "já não mora lá..").
- A avó Mariana, coração maior que o mundo, porta aberta a toda a gente, improviso na algibeira e mesa posta para quem chegasse. "De seu nome Mariana", que "não era feia nem bonita", quando passava em Évora, descrita no "Perfil das Arcadas". A avó Mariana, "alfaiate", mãozinhas de ouro, na costura e no tempero. Mãe de todos. - Juntaram-se as três primas e acabaram duas, que isto, já se sabe, há irmãos que quando se pegam... mas, enfim, dei por mim a fumar um cigarro na varanda a pensar que em pequenas diziam as mesmas coisas quando se zangavam e o melhor sempre foi deixá-las resolver por si... até porque desta vez não havia pai nem tio por perto para resolver o assunto com uma bofetada para cada uma!!! Nem para isso, nem para ajudar na tarefa; ainda menos para recolher objectos de estima...
Assim se fizeram umas partilhas improvisadas, de coisas que ficaram para trás. Tão importantes outrora...
Muitas coisas se deram a quem precisa, outras seguirão caminho e, espera-se, recicladas serão úteis, como a colecção magnífica das "Diana", de caça e pesca, de décadas idas. Tantos anos guardadas por causa dos "meninos" e os meninos não as quiseram. Mas bem, já nem vale a pena pensar nisso, há que ser "práticas", há que ser práticas, e toca a tirar tudo dali.
Não faltou um momento de barbárie, acompanhado de riso - que a nós tanto nos dá para rir como para chorar - comigo a desfazer à martelada uma cómoda de madeira que se foi desmanchando ao longo dos anos (já entrou naquela casa velha, porque aquela casa era a única que tinha paciência para isso....) e que era impossível de transportar, escadas abaixo...
De casa da minha avó trouxe então, em resumo destes dias, as melhores coisas que se podem querer:
A máquina de costura antiga, de ferro, com que a minha avó punha comida na mesa;
as caixas da cozinha, onde guardava, devidamente identificados, o arroz, a massa, a farinha, etc...;
os cortinados da sala;
as fotografias;
uns retalhos de pano;
um saquinho com pertences da bisavó, acompanhados de instruções da avó Mariana, para quando ela morresse (!),
e muitos dias e noites bem passados, uma infância rica de amor e aprendizagem.
Como se ama incondicionalmente, como se cozinha, como se dá.
E a lembrança dos cheiros, dos sabores, das risotas, das preocupações, da correria.
De todos os que vinham. Dos serões, das manhãs, da luz da casa nas diferentes horas.
Da UCAL, da Granfina, do Morais.
Das sopas, dos guizados, da açorda, dos croquetes, das fatias recheadas.
Do "ê cá...", do "talho do Zéi", dos "bifis"... do "Cherépi!!"... :)
Das colheradas de Cerelac em pó, "ó avó posso?", de pôr a mesa e da caminha mais bem feita de que há memória.
Da laca no cabelo, pó de arroz e um batonzinho antes de sair... tic, tic, tic, lá ía ela de passo sempre apressado, que quem disse que os alentejanos são preguiçosos não conheceu a minha avó!
E tenho o coração cheio dela.

3 comentários:

M.M. disse...

Esta semana tenho de ir ver a minha avó. Telefonaram-me para avisar que está muito doente. Tem quase 90 anitos.
As minhas recordações são como as tuas: noutra cidade, noutra mesa, e noutra cama. Tb a mais bem feita do mundo. Afinal há duas. De certeza que há muitas mais.
Um beijo cheio de carinho para ti, linda.

Emanuelle disse...

:)

Luísa disse...

:O)