quinta-feira, 26 de julho de 2007

silêncio



ponham bem os olhos nesta imagem.

Longe de ser a imagem mais marcante do filme "Casa de Areia", que é todo feito de imagens belíssimas, é uma fotografia desses três. E que três!

O que esperar de um filme que conta, para além de outros digníssimos actores (como o sempre fabuloso Stênio Garcia), com estes três?!!!

Descobri-o (o filme - a sua existência!) nos tempos do Tolice, em pesquisas na net. Nunca passou pelas nossas salas de cinema. Disposta a comprá-lo na Amazon ou no ebay, descobri, feliz, que existe na FNAC!!

Não é, aparentemente, um filme fácil, para quem esteja à espera de acontecimentos a ritmo alucinante... mas o que é certo é que nos prende, naquele imenso vazio. Ficamos agarrados ao destino daquelas personagens, no seu desespero e na intransponibilidade daquelas dunas imensas (maiores ainda em 1910, sem a ajuda de motores para as atravessar).

Para mim, os melhores diálogos estão reservados para o fim.

Quando a Montenegro, já a fazer de filha/mãe muito envelhecida, na geração do meio, vê chegar a sua filha (numa cena em que também é ela a representar o papel, portanto contracena com ela própria), também já envelhecida, que não vê há muitos anos (40, talvez). Como todas as mulheres da família têm traços muito parecidos (são sempre representadas na idade adulta e na velhice por Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, filha e mãe na realidade), a velha senhora, ao ver chegar a filha, julga, por momentos, estar a ver a própria mãe (de quem se lembra com aquela idade).
A expressão no olhar quando diz:
"-Mãe?", seguida de uma pausa para recuperar a consciência do provável e logo depois dizer "-Filha!" é comovente. E a situação não deixa de nos arrancar uma gargalhada.

Quase de seguida, quando as duas conversam e a filha aproveita para contar à mãe notícias do mundo de "fora", falam sobre a ida do Homem à Lua.
A mãe pergunta se ele voltou mais novo (por causa de uma teoria de que tomou conhecimento breve muitos anos antes) e a filha responde, espantada, que não, que acha que até voltou mais velho...
Depois a mãe quer saber o que encontrou o Homem na Lua e a filha responde-lhe que nada! "-Areia"!
Essa é talvez a maior quebra de expectativas que se pode dar àquela mulher, enclausurada pelas dunas imensas do Maranhão brasileiro durante dezenas de anos, de onde tentou sair, em vão, na maior parte da sua vida adulta.
E é de uma tristíssima beleza, esse momento.

De resto, o Seu Jorge é sempre um regalo para os olhos e para os ouvidos. Faltava falar nele.

4 comentários:

M.M. disse...

É lindo.
A fotografia e os diálogos são de ir às lágrimas.
Tb gostei muito, boa compra.

Lia Ferreira disse...

:)

Unknown disse...

não conhecia este filme e pelo que li deu-me uma vontade enorme de o ver. vou procurá-lo na fnac tb ;)

Lia Ferreira disse...

:)

olá e obrigada!